Revolucionário - Capítulo 5


Começava uma grande revolução. O homem velho dava lugar ao novo. Agora Francisco
percebia a verdadeira sendo do seu destino. Não havia nascido por acaso.

Pensou na possibilidade de um trabalho em que pudesse oferecer algo de si mesmo, a rosa que trazia na alma.

Na época havia muitas igrejas e conventos em ruínas. Então, a meta inicial seria reconstruir igrejas.

Tendo diferente conceito de valor, chegou mesmo a gastar algum dinheiro do pai nessas
reformas, o que provocou frontal e escandaloso desentendimento.

Mas, em ato público, na presença do bispo Guido, devolveu ao genitor nem só a bolsa de
dinheiro com também as vestes do corpo... e o próprio nome.

Se no encontro com o leproso ele transformara repugnância em amor, agora renuncia a tudo para tudo dominar. Virando as costas à riqueza material, fita os horizontes longínquos e diz: "eu irei ao encontro do meu Senhor!" Isso significou, por assim dizer, um salto no Desconhecido.

Há trechos na vida em que a alma tem de desnudar-se, deixando para trás a roupagem de
seus convencionalimsos. É assim que a centelha divina projeta livremente seus raios, dissipando as trevas da ignorância e iluminando o mundo.

Francisco foi um sublime revolucionário. Seu exemplo e sua palavra geraram profundas
transformações no Planeta.

A rigor, ele nunca foi um pobre, nem um católico convencional; foi Cristão. Vestiu o há-
bito e adotou determinados formalismos, apenas circunstancialmente. Seu compromisso espiritual era particularmente com a Igreja Romana, portanto tinha de haver alguma seme-
lhança externa, entre ele e os sacerdotes oficiais.

Uma vez, quando o seu movimento já assumia certa proporção, com atividades, inclusive
em outros países, e começava a se desnaturar com o organizacionismo, o frei Pedro de Catani, demonstrando excessivos cuidados, sugeriu que grande parte do dinheiro renunciado pelos novos irmãos fosse gasto não mais com o famintos e miseráveis, e sim com as necessidades burocráticas e materiais da igreja da Porciúncula e de toda a Ordem.

Compreendendo a gravidade da situação que já envolvia muitos membros, Francisco, frente a frente com o companheiro talvez influenciado pela cúpula eclesiástica, reagiu energicamente: "Toma os ornamentos do altar e vai vendê-los! Vale mais ter-se um altar nu e seguir-se o Evangelho, do que ter-se um altar ricamente adornado e desobedecer ao Evangelho!"

Com esse argumento dirimiu dúvidas e reacendeu a luz do Evangelho.

Doutra feita ele precisou falar com o papa Inocêncio III, em Orvieto, que não pôde aten-
dê-lo por estar numa importante conferência de cúpula.

Francisco então deitou-se à porta do palácio como se fosse um mendigo comum. Quando
viu Sua Santidade saindo, ergueu-se e falou: "Senhor, já que tendes um alto cargo e muitas
vezes estais ocupado com negócios importantes, os pobres nem sempre podem ser recebi-
dos por vós..."

Aproveitou a oportunidade e fez verdadeira pregação evangélica ao Sumo Pontífice e sua
comitiva. Esse acontecimento desencadeou comentários em toda parte.

A revolução acionada por Francisco de Assis foi e continua sendo de grande repercussão. Sacudiu a alma do povo. Mostrou a todos, pela palavra, mas principalmente pelo exemplo,
o verdadeiro sentido do Evangelho.

Os biógrafos chegam a dizer que Francisco, além de ter dado aos pobres uma condição
social, quase transforma o papa em cristão.

Aliás, afirmou Napoleão, que muito pouco vale o império que ele sujeitou com sua espada, comparado ao que Francisco aprisinou com o seu cordão.
Seu mundo era outro, feito de amor e verdade,
além dos horizontes e das fronteiras,
acima dos folguedos da vaidade.
Desceu ao Planeta
qual semente a trazer nas entranhas
as cores e o aroma do Céu.
O Mundo de Francisco de Assis. Espírito Rabindranath Tagore. (Psicografado por Ariston S. Teles)

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